terça-feira, 12 de maio de 2009

Depoimento dos Pioneiros da Cidade

Padre Paulino _ um desbravador

Impossível falar em Sena Madureira e sua trajetória de mais de 100 anos, sem tocar no nome de Frei Paulino Baldassari, conhecido simplesmente por ‘Padre Paulino’.
Há mais de 50 anos ele percorre nossos rios, varadouros e igarapés mais distantes, aqui na região do Acre, levando ajuda humanitária a comunidades carentes e isoladas do município. Mais que isso, ele leva solidariedade e esperança aos que nada possuem, além da própria fé.
Italiano de nascimento, mas acreano de coração. Sua trajetória se confunde com a própria historia da cidade. A prova disso é que dedicou uma vida inteira à causa acreana e em especial à este município, que o acolhe como um de seus moradores mais ilustres.
Alem de cuidar da alma, Padre Paulino também dedica seus dias a cuidar de pessoas que não dispõem de condições para prover seu próprio sustento, e percorre há muitos anos esses rios, nos lugares mais distantes e excluídos, onde muitas vezes, nem Estado, nem prefeitura, nem políticos chegam.
A historia deste padre no Acre, começa em 1954 e de lá para cá, tem se dedicado exclusivamente aos pobres de corpo e de alma.
O papel de Padre Paulino na Educação, tem significativos resultados. Alem de todos esses anos de sacerdócio dedicados ao povo de Sena Madureira, em especial ao povo dos rios Iáco, Macauã, Caeté e Purus, um de seus mais expressivos trabalhos foi à implantação da educação na zona rural. Foi de iniciativa dele a primeira escola na zona rural do município de Sena Madureira. Algumas escolas ele próprio ajudou a construir com a colaboração da comunidade.
Ele tem relevante contribuição no processo de formação da sociedade madureirense
Do alto de seus 83 anos de idade, pelo menos 51 deles, Padre Paulino tem dedicado a esta região. Seu trabalho no combate à devastação da floresta amazônica fez com que fosse alvo de ameaças de morte durante as décadas de 80 e 90, mas sua luta hoje, tem reconhecimento nacional e internacional, tanto que já foi merecedor de vários prêmios significativos, devido à relevância de seu papel no cenário nacional e na mídia mundial.
Médico da floresta, desbravador, incansável, Revolucionário, Padre Paulino...
Há quem diga que ele é a cara de Sena Madureira!
Alguém contesta?


Eduardo Daniel Sales nasceu em 1915, no Estado do Amazonas veio para Sena Madureira com 8 anos de idade em 1923.
Logo que chegou à cidade, seus pais o puseram na escola pública. O mesmo diz que os professores eram rígidos e puniam suas travessuras com castigos, a punição era apanhar nas mãos com a palmatória, e ficar em um quarto sujo e escuro chamado de cafua, e depois das aulas tinham que levar um bilhete do professor para os pais recomendando disciplina a seus filhos em casa.
Seu Eduardo desde menino ajudava seu pai no corte da seringa, e foi seringueiro durante muitos anos, durante a segunda guerra mundial (1939-1946) foi convocado para a guerra sendo levado para Manaus em meados de 1945 e ficou na reserva junto com alguns companheiros, mas não chegou a combater e com o fim da guerra retornou a cidade.
O mesmo relata nessa época as ruas não eram calçadas, as moradias eram simples e feitas de madeira, e o comercio era de propriedade de estrangeiros sírio-libaneses e as mercadorias que abasteciam o comercio e os seringais vinham de Manaus trazida por navio e chatas movidos a vapor, e o meio de transporte usado pela população eram as canoas e o meio de comunicação eram o telegrafo e o correio e as entregas eram feitos por um encarregado que tinha que percorrer os rios da região em canoas remando e parando em cada localidade para entregar a correspondência.
A religião predominante era católica onde os seguidores participavam das missas, do catecismo que era conhecido como ensino religioso e respeitavam os dias santos da igreja, quem evangelizava era Dom Prospero Bernardo um dos primeiros bispos e Monsenhor Antonio Fernandes da Silva Távora.
Relata também sobre os espaços de lazer e as festividades que tinham na cidade era o carnaval com blocos e brincantes fantasiados, os desfiles e apresentações do dia 7 de setembro, 25 de setembro no aniversario da cidade e 15 de novembro, e apresentações de teatro, o cinema ao ar livre para toda a população e o cinema pago onde só entrava quem pudesse pagar, e também as retretas que eram apresentações de músicos na Praça 25 de Setembro.
Seu Eduardo foi seringueiro durante muitos anos, lecionou em um projeto chamado Mobral e hoje é aposentado, mas deu sua contribuição mesmo que pequena para o desenvolvimento da economia da cidade.





João Damasceno de Moura, nascido em 1925 no Rio Iaco, foi seringueiro, hoje é casado, pai de um filho e aposentado como soldado da borracha.
Em março de 1950 sua família mudou-se para Sena Madureira a procura de melhoras. Na época que chegaram as ruas ainda eram de barro, e só começaram a ser pavimentadas em 1963 com o desenvolvimento da cidade.
Quando morava no seringal com seus pais trabalhava cortando seringa e na cidade passou a trabalhar como pedreiro, construindo e ajudando a construir vários prédios que existem até hoje como a AABB, Casa Amizade um dos comércios mais antigos da cidade, a caixa de água do DEAS (Departamento de Água e Saneamento). Fez reformas no colégio Instituto Santa Juliana, na igreja católica Nossa Senhora da Conceição, ajudando no crescimento e desenvolvimento da cidade.


Vicente Araújo Ferreira, mais conhecido Chaga Filicio nasceu em 5 de abril de 1925, filho de seringalista, nasceu no seringal Oriente no rio Macauã.
Veio para Sena Madureira no ano de 1948, para estudar, estudou na escola Ebéneze que funcionava também como a Igreja Evangélica Batista Regular.
Ao termino de seus estudos trabalhou como policial civil, e chegou a exercer o cargo de delegado de policia.
Durante o período em que trabalhou como policial havia um numero pequeno de policiais, os mesmos não disponibilizavam de viaturas para atender as ocorrências e fazer a ronda pela cidade então todo o trabalho era feito a pé.
O mesmo fala que na época a violência quase não existia, a droga que havia era somente a cachaça, que também era enviada aos seringais para as festas dos seringueiros, no meio dessas festas raramente havia homicídio, mas quando acontecia fazíamos a busca do assassino para prender na cidade. A sociedade era muito rígida, as mulheres de vida fácil como eram chamadas as prostitutas não podiam sair as ruas antes das 22h00min, a que fosse apanhada na rua antes desse horário era detida e levada para a delegacia.
A riqueza que predominou durante a época foi à borracha chamada por todos de ouro preto, pois era a principal fonte de renda da e muito valorizada.
As festas eram feitas em colônia perto umas das outros aonde todos iam para se divertir.
As datas mais comemoradas era a época do carnaval onde todos saiam em blocos totalmente fantasiados durava três noites, na ultima ficavam até de manhã, 7 de setembro e 25 de setembro , datas essas que eram comemoradas com desfiles bastante organizados e bonito , cavalhadas vinda de Manaus.
Na época, no município havia entretenimento como cinema era construído de madeira e as sessões eram pagas.
Os meios de transporte eram através de embarcação, como barcos onde as pessoas viajavam durante vários dias para chegar a uma determinada localidade os navios vinham de Manaus trazendo mercadorias para abastecer a cidade e os seringais.







Antonio Belo Oliveira, nasceu no dia 20 de maio de 1905, no estado do ceara, viúvo há dois anos pai de quatro filhos e aposentado como soldado da borracha.
Chegou de barco em Sena Madureira em 1939 com sua mulher, ele diz: a primeira vez que vi Sena Madureira fiquei surpreso porque lá no ceara diziam que era uma cidade bonita, mas mais parecia uma vila. Veio porque na época da guerra tinha duas opções ir a guerra ou vir para o acre trabalhar nos seringais cortando seringa, então decidiu em vir para o acre por temer morrer na guerra e deixar sua família sozinha preferiu trabalhar no seringal depois de muito tempo trabalhando no seringal decidiu vir para a cidade para que seus filhos pudessem estudar, ele diz que: após chegar percebeu que não era tão fácil ganhar dinheiro.



Sr. Manuel Passos da Silva
Cheguei a Sena Madureira no ano de 1926, com a idade de um ano e seis meses, vim com a família do estado do Pará. No navio Rio Madeira, eu meu pai e minha mãe como seringueiros, viemos cortar seringa no Acre. Sena Madureira nesse tempo era muito pequenininha, o transporte era carro de boi e a mercadoria chegava ao porto de Sena Madureira no navio e chata, que era uma embarcação grande, mas nada, Sena Madureira só tinha lama, era um seringal, nesse seringal tinha seringueira, por todo canto a mata, era mata, Sena Madureira tinha muitos seringalistas, agente não pode nem contar por que são quatro rios né, tudo era habitado por seringueiros, patrão porque naquela época o movimento no Acre era borracha não existia outra coisa, ninguém plantava roça a farinha importada do Pará, o tabaco vinha do Pará, tudo vinha de fora, o pirarucu vinha de Manaus tudo vinha de fora Sena não tinha nada. O Acre só era mesmo o movimento era borracha, agora chegou o tempo que a borracha era o ouro da Amazônia, depois que passou na guerra no tempo da guerra, ela já começou a dar muito dinheiro, porque a borracha antigamente o preço era estável, hoje ela tava de um real, amanha de dez reais depois caia de novo, depois que passou a guerra não agüentou o preço fixo, agüentou anos e anos e anos o preço fixo e era o ouro da Amazônia, você com mil quilos de borracha viajava o mundo inteiro, com o dinheiro, seringueiro sempre naquela época tinha muito meeiro, o meeiro cortava, trabalhava e fazia uma tonelada de borracha, tocava quinhentos quilos pra ele, com esses quinhentos quilos ele ia receber o dinheiro em Manaus, lá virava e andava, vira pela quele meio de mundo, com esses quinhentos quilos de borracha chegava aqui ainda com dinheiro, era o ouro do Amazônia, chamava ouro negro. Ai pus que eu fiz essa puesia, daquele tempo, da vida como era naquele tempo, ate hoje.

A borracha era transportada
em costa de animal
usava uma cangaia
feita de gancho de pau
dava quatro viagens por mês,
conforme o seringal
quando dava fim do ano
todo mundo pa margem saia
a espera do navi
com muita mercadoria
pesar sua borracha
que no corredóro fazia
quando se reunia
era aquela animação
que o saldo era pago
em cima do balcão
recebia as contas correntes
extraída pelo patrão.
Muitos seringueiros resolvia
baixar, uns pa Manaus outros
pó Ceará visitar sua família
que morava naquele lugar.
Outros voltava pa suas colocação
começar novo faço na entrada
do verão, roçar suas estradas
na maior animação,
condivertendo na maior alegria
que o patrão tinha dinheiro e muita mercadoria
pra não faltar nada pa sua freguesia.


O transporte da borracha no seringal era feito por animal, os animais era que tirava todo produto, todos os meses o comboeiro, dava viage aviando os seringais e conduzindo a borracha, tirando a borracha, ia direto pa Manaus, Sena Madureira só era turcos, naquela época as casas, tinha as casas aviadoras e que aviava, JG e J Tamurim era que aviava os seringais, agora a mercadoria descia dos seringais direto pa Manaus, não vinha pa Sena Madureira não desembarcava, só direto pa Manaus, e tanto que muitos seringueiros ia receber o dinheiro lá em JG. Quando o saldo era grande, patrão passava, baixava nu navio, o transporte era navi, uma embarcação que escalava sete pé d’agua, vai ficar mais ou menos três metros de profundidade, o navi tinha dois purão, chamava discotilha, um de proa e um de poupa, cada um tinha um guincho na proa outro na poupa pa tirar a mercadoria do purao, a mercadoria era tirada por aquele guincho, tinha gato, nesse tempo tudo era caixa, e saco, abraçava com aquele gato e subia colocava no convés do navio, os marinheiros pegava e butava no seco e a seringueirada carregava pu barracão.
Chata era uma embarcação grande, ela tinha dois pisos, dois andar, mas ela era grandona, como uma balsa dessa ou maior, agora atrás, era uma roda, a maquina era tocada a fogo, a lenha caldeira e ela fazia chi, chi com aquela rodona rodando pei, pei pei e aquilo rodava com velocidade na poupa dela, ela tinha a poupa quadrada, chamava chata porque a poupa era quadrada rodava e tangia ela pei, pei, pei. Coisa daquele tempo mesmo, né, pei, pei, pei, ai empurrava ela com trezentas toneladas de carga, quatrocentas toneladas de carga, pegava muita carga, grandona.
Depois que o Curissar afundou, eles ainda compraram o Júpiter, o Júpiter ainda deu uma viagem na Guanabara, mas um navio maior que Currisar, ai era um navio muito grande, ai ele mandou, Antonio mandou duas balieiras grandes pa fazer o transporte, duas balieiras a Macuã e a Guanabara, pegava uma trinta a quarenta toneladas cada uma, era maceta, motosão pra fazer o transporte, enviadas pela casa aviadora JG.
Devido às pessoas não terem costume, com o barulho dos aviões ajatos, quando ouviram o barulho do primeiro, muitos acharam que o mundo ia acabar, ai fiz o verso.
O primeiro avião ajato que po
aqui por cima passou,
foi um grande reboliço um
grande pavor, mulher pedia
perdão ao marido pelo chifre
que ela botou.


Chico Mendes foi morto por proteger o seringueiro
E ai nasceu o ódio de um grande fazendeiro
E ai foi metralhado este pobre brasileiro
E ai os seringueiros ficaram despanaviado
Porque o estado do Acre virou fazenda de gado
A seringueira virou pó e os seringais
Foram fechados. E ai os seringais foram
Desmoronando os barracões foram caindo
e os campos foram fechando
e os nomes dos seringueiros no Acre foi se acabando.
Eu vou dizer uma coisa, pode acreditar,
Que o nome dos seringueiros nunca mais há de voltar.
E não vão dez anos a floresta vai se acabar.
Essa imensa floresta obra da natureza,
O homem quer destruir essa grande beleza,
Mas ele vai se arrepender isso é
Quase uma certeza.
Veja meu amigo o que está acontecendo
Os campos vêm secando e o gado emagrecendo,
As águas estão sumindo e os peixes estão morrendo.
O Yaco se encontra uma grande situação,
Você anda o dia todo e não ver nenhum capelão,
Ta se acabando tudo por causa da poluição,
A poluição vem das grandes derrubadas,
Ai vem o verão, ai vem as grandes queimadas, acabando.
Com o verde, ali não fica mais nada.
Daqui pra 2015, se as derrubadas continuar.
Todo mundo vai ver a floresta vai se acabar
E o Acre vai virar o sertão do Ceará.
Aqui quem vos fala é o poeta Passim,
Peço por favor, que não jogue veneno no capim,
Ta correndo pras águas e os peixes tão levando fim.
Vou lhe fazer uma pergunta e quero ver você responder,
Qual pedaço do mundo que no espelho só você ver,
Que atrapalha nossa vida e nosso modo de viver,
É a língua meu amigo que nos trás a perdição,
Com ela você louva a Deus, com ela você louva o cão,
Fala mal de pai e mãe, fala mal de seu irmão.
Comecei a cortar seringa, com 14 anos de idade,
Cortei 18 anos, tempo da minha mocidade, hoje só resta lembrança,
Da seringa tenho saudade.
Amigo escute preste atenção, quer que eu vou contar,
No tempo dos patrão, a vida do seringueiro,
Na suas colocação. Naquele tempo era uma grande alegria,
Porque o seringueiro tinha valor e o produto que ele fazia,
Era ouro da Amazonas de que todo mundo vivia.
Morei 60 anos em Guanabara e Amapá, existia muita fartura
De pirarucu e jabá, até a farinha d’agua era importada do Pará,
Seringueiro antes de ir pra estrada tomava um copo de nescau
Fazia uma boa farofa no tempo do bacalhau
Um peixe muito conhecido vindo de Portugal,
Saia de madrugada enfrentando a surucucu a cobra jararaca
E a onça cancuçu o grito da raposa e o ruído do janau.
Quando o dia vem amanhecendo isturrava o jacamim
O grito do jacu o rasto do cujubi o ronco do capelão e o bufado do porquim.
Quando dava oito horas apitava a nambu azul, o grito do macaco zogui
E o canto do irapuru, a carreira da cutiara e o pulo do quatipuru.
Seringueiro dormia pouco, saia de madrugada,
Porque era obrigatório andar horas na estrada,
Não se comodava muito com o esturro da onça pintada,
Ela usava seu rifri na bandoleira sua balde na mão
A cabrita e a raspadeira, aporonga na cabeça, pa iluminar as seringueira.
Quando dava onze horas o corte da estrada ele fechava, na boca da estrada
Ele sentava, arrastava uma boa farofa e ali ele almoçava,
A água que ele bebia, no cano de taboca e então fazia uma cuinha
De folha de sororoca e descia pra um garapezinho onde tivesse
Uma barroca. Quando chegava de tarde gritava pra mulher,
Fazer um copo de leite e misturar com café,
Que vou tomar um banho na água do garapé.
Despejava o leite na bacia, ali não tinha sujeira, botava fogo na fornalha,
Dentro da difumaceira, uma casinha fechada de palha, tirado das palheira,
O cavaco era partido, de espécie de uma fatia, sua cuia na mão e o leite na bacia, o saco defumado saia do toco noutro dia.
Sua colocação que cabia quatro meeiro, começava o mês de abril
E ia até o mês de janeiro, defendia o mês de setembro,
pra descanso dos seringueiro.
Dava no começo do mês chegava a aviação,
Ali vinha de tudo a mandado do patrão, pirarucu, jabá, arroz e o feijão.



Numa festa é um dançando de calção, nu de cintura pra cima,
Vergonha num tem mais não, dançando uma tal lambada,
Que só sendo coisa do cão, a lambada foi mandada,
Pelo maior lúcifer, é uma dança imoral, que muita gente quer
E homem com joelho, entre as pernas das mulheres.
Amigo escute, a coisa ta demais, apareceu um tal de tcham
Mandado pelo satanás, é um balanço de bunda que dá pra frente e dá pra trás.




AGOSTINHO ESCÓCIO VIEIRA DRUMOND



Nascido em 28 dias do mês de agosto do ano de 1860. Filho de JOÃO ESCÓCIO DRUMOND e MARIA VIEIRA DRUMOND. Ambos cearenses da cidade de URUBURETAMA, estado do Ceará, na idade adulta passou a assinar seu nome como – AGOSTINHO ESCÓCIO VIEIRA.
Em 1876, com apenas dezesseis anos de idade, a convite de JOÃO GABRIEL (Comendador do Grão-Pará), que na época de passagem pelo Sertão de Uruburetama, recrutava pessoas para desbravar os vastos seringais do Vale do Uáquiri, até então desconhecidos da civilização.
Assim seguiu a caravana de João Gabriel, que se fazia acompanhar de inúmeros familiares do comendador. Na passagem pelo Pará, encontrou com o irmão JOAQUIM VIEIRA DE AZEVEDO, que residia em Belém e trabalhava para o comendador. A caravana seguiu para a província do Amazonas, onde lá recrutou mais homens para o serviço de abertura das estradas de seringa, dos novos seringais a serem desbravados nos afluentes do Purus.
O comendador João Gabriel liderava os desbravadores do Purus e residia no seringal Bem-Posta, com o comendador, Agostinho Escócio Vieira adquiriu bastante prática, nos trabalhos de exploração aos seringais ao longo do Purus. Foi então, que no ano de 1881, recebeu ordens do comendador para explorar o Yaco e seus afluentes, região ainda desconhecida e não explorada. Encontrando-se com BEJAMIN FONTES DE PONTES, situado a foz do rio Macauã, afluente do rio Yaco, associaram-se e passaram a desbravar algumas áreas de terra no rio caeté, outro afluente do Yaco. Não obtendo êxito voltaram ao Macauã, onde exploraram três seringais: VALÊNCIA – PROVIDÊNCIA – CAPITAL. Até dezembro de 1883 conseguiram explorar mais três seringais sendo: BOCA DO MACAUÃ – SÃO JOSÉ – SÃO JOÃO. Quando então, resolveram ir ao Ceará a fim de contrair matrimônio.
No regresso, uma parada no seringal Bem-Posta, onde residia o comendador, lá se encontra com o irmão Joaquim Vieira de Azevedo, que vindo do Pará, onde já residia por algum tempo e que tomou o mesmo caminho do Purus com João Gabriel com quem estava trabalhando. Lá conheceu a sobrinha MARIA JOANA, filha de Joaquim Vieira e simpatizando a jovem de apenas treze anos, oficializou o pedido de casamento, o que fez, sendo o casamento celebrado na cidade de Lábrea estado do Amazonas, no dia 05 de janeiro de 1884. Na sua viagem ao Ceará adquiriu por compra, oito escravos africanos, para o serviço de lavoura, mas só vieram chegar ao seringal em meados do mês de maio de 1888, em seguida veio a abolição e apenas quatro escravos resolveram ficar trabalhando por sua livre e espontânea vontade e com a devida remuneração e integrados ao convívio da família. (os escravos em referencia, chamavam-se ROSA, ANASTACIO, CHICO VELHO e MARANHÃO).
NA SUA VOLTA AO Yaco, repartiu a sociedade em Benjamin Franco de Pontes, recebendo como parte os seringais: São João e São José. Juntamente com o irmão e sogro, expandiram os desbravamentos ao longo do Yaco e exploraram os seguintes seringais: Mercês, Oriente, Prainha, SANTA Luzia, Baturité, Sacado e parte de Nova Olinda; os quais distribuíram com o irmão e cunhados, como seja: BATURITÉ coube a seu irmão e sogro Joaquim Vieira de Azevedo e sua esposa, Maria Tereza Vieira. PRAINHA ficou com seu cunhado Francisco Barbosa de Azevedo casado com Izabel (dona Bela). SACADO ao seu outro cunhado, Manoel Damião da Silveira, casado com dona Tereza Vieira da Silveira. MERCÊS, adquirido pelo genro, também desbravador que ampliou sua área de terra e tornou-se o maior produtor de borracha do vale do Yaco, dispondo inclusive de dois caminhões para o transporte da borracha produzida.
Os demais foi repassando aos seus conterrâneos que aos pouco, aqui chegavam e passavam a habitar o rio Yaco e seus afluentes, na foz do Caeté já se formava um pequeno povoado, ao longo do Purus se travavam violentas batalhas com os índios bravos.
Em 1891, deu por encerrada a sua missão de desbravador, já velho e cansado de tantas lutas, passou a explorar somente o seringal São João, produzindo uma média anual de 20.000 quilos de borracha. Da união com MARIA JOANA, nasceram dez filhos:
Emilia Escócio de Faria, Otaciana Vieira Sampaio, Francisca Vieira de Areal, Maria Escócio Vieira Lima, Heliodora Escócio Vieira, Astrtogildo Escócio Vieira, José Escócio Vieira, Hermínio Escócio Vieira,
João Escócio Vieira, Antonio Escócio Vieira.
Em 1902, os seringais da bacia do Juruá e Purus estavam habitados por nordestinos, sendo, a maioria composta por cearenses que vinham em busca de fazer fortuna, trabalhando na extração do látex, por outrto lado também chegava Bolivianos e caucheiros peruanos, foi então que a disputa por terras ricas em arvores de seringueiras, contribuíram para eclosão da revolução acreana, comandada pelo coronel JOSÉ PLÁCIDO DE CASTRO.
Em outubro do mesmo ano, os seringalistas do Acre, escolheram-no como líder do exercito acreano, o coronel seringalista José Plácido de Castro. Que logo em seguida passou a recrutar, em todos os seringais, homens para a batalha. O seringalista Agostinho Escócio Vieira, atendendo o chamado do coronel José Plácido de Castro, foi incorporado ao exército revolucionário, cooperando com mercadorias, armamentos e alguns homens do seu seringal. Com o final da vitoriosa e sangrenta batalha, recebeu como recompensa das mãos do coronel José Plácido de Castro e governador do Estado independente do Acre, a demarcação e o título definitivo do seu seringal SÃO JOÃO. Cujos documentos e as terras, encontram-se em poder de seus descendentes até hoje.
AGOSTINHO ESCÓCIO VIEIRA, depois de ter lutado muito pelo desbravamento desta terra, ao longo dos rios Purus, Yaco, Caeté e Macauã. Vencido pelas dificuldades encontradas nos trabalhos dos seringais e compartilhadas por seus irmãos cearenses, no meio da imensa floresta amazônica. Veio a falecer no dia 01 de abril de 1913, no seringal São João no rio Iaco foi enterrado no seringal, assim como desejava.


UM REI ACREANO DA BORRACHA


Aos trinta e quatro anos, aí por volta de 1909, pois nascera a 04 de novembro de 1875, em Sítio do Meio, no Estado de Sergipe, Avelino de Madeira Chaves tornara-se um grande seringalista do Iaco.
Aos dezessete anos tomara o rumo do Pará, como faziam todos os nordestinos desejosos de se libertarem das más condições de vida dos seus berços natal. Dali foi para o Rio de Janeiro tentar a vida militar, sentando praça, em 1893. Mais tarde, voltando à Belém, concluiu o curso de agrimensura, pela escola politécnica do Pará e, com o seu diploma, embarcou para o Acre, para o Acre em 1896, um paraíso para os demarcadores, como o era toda a Amazônia, ganhando os altos rios. Lá tomou parte de todos os movimentos contra os bolivianos e abriu uma estrada entre o Iaco e o Xapuri.
Em 1912, sendo titular da firma A. Chaves & Cia., da qual também era sócio João Câncio Fernandes, possuía os seringais Brasil, Guanabara, Arvoredo e Peri, no Iaco; Canadá no rio Acre, e Panamá, Califórnia e Mato Grosso, no Xapuri.
Em 1909, já estava rico, pois somente o seringal Guanabara produzira 190.000 quilos de borracha, já tendo descido 144.000, pelo vapor Índio do Brasil, o que lhe propiciara uma viagem à Europa, aonde iria, a passeio e a negócio, visando a aquisição das embarcações necessárias ao seu comércio em expansão. A produção de 190 toneladas, somente em um dos seus seringais equivaleria, em setembro daquele ano, a umas 475.000 libras esterlinas ou 3.600 quilos de ouro, uma gigantesca fortuna, para os padrões da época.
De passagem por Sena Madureira, anunciou, aos amigos, que ficaria hospedado, no Rio de Janeiro, no Hotel Avenida, e, em Paris no Grand Hotel.
Durante essa sua viagem, na Alemanha, a 2 de setembro de 1910, ofereceu um almoço, no salão do Kaiser, do Hotel Adllon, em Berlim, ao qual compareceram cinqüenta oficiais prussianos e brasileiros, às ordens do Marechal Hermes da Fonseca, então em visita àquele País, de quem era partidário fervoroso.
Em Paris, comprou, associado a Fernandes Melo Filho, o jornal Lê Courrier du Brésil, destinado à propaganda do nosso País, no Velho Mundo.
No seu regresso, foi nomeado Comandante Superior da Guarda Nacional do Alto, chegando a Sena Madureira, pelo navio ajudante, sendo alvo de calorosa acolhida.
Durante essa visita ao Velho Mundo, encomendou três modernas embarcações, para as suas firmas: a lancha Sena Madureira, a Alvarenga Catiana e o vapor Guanabara.
A lancha Sena Madureira foi construída nos estaleiros franceses chaparelle, tendo o casco de aço galvanizado, 13 metros de comprimento, 2,80 metros de boca, 1,10 metros de pontale 60 cavalos de força, sendo destinada à linha Iaco-Purus, até a Boca do Acre. Traria a reboque a Alvarenga Catiana, fabricada pela empresa alemã H. Holtz, com 48 pés de comprimento e 80 centímetros de calado, dispondo de beliches, banheiros e cozinha.
O barco principal seria o Guanabara, cuja primeira subida, ao Iaco, estava prevista, para março de 1911, mas fora retardada por uma greve, nos estaleiros ingleses, o que atrasara a sua entrega.
O Jornal “A Província do Pará informava que o barco fora classificado sob o nº100 A 1 do Lloyd Register, como navio de primeira classe para rios, sendo construído pela Dundee Shipbuilding Cy Ltd, de Dundee, na Escócia. Possuía quatorze camarotes de primeira classe, com divans, beliches e guarda roupas, acomodações de terceira classe, camarotes, no bico da proa, destinados aos oficiais, alojamentos de oito camas, para os tripulantes, duas câmaras espaçosas, no convés, reservadas ao comandante e ao proprietário, e instalações sanitárias. Havia ainda um magnífico salão de refeições, a polpa, tendo quatro mesas de mármore, ventiladores e um piano automático, com vasto repertorio, e um salão para jogos e fumantes.
O barco fora equipado com câmaras frigoríficas, destiladores de água potável, uma máquina com capacidade de fabricar 150 quilos de gelo por dia, um grande conforto para as regiões de calor tropical, alem de luz elétrica.
O navio media 140 pés de comprimento, 29, de boca e 8,5, de pontal moldado, e as maquinas de tríplice expansão tinham 350 cavalos de força, consumindo 6,5 toneladas de carvão por dia, e desenvolvendo 11 milhas por hora, em velocidade de cruzeiro, e 12, máxima. Estavam equipados com guindastes elétricos, lanchas e motores americanos.
A viagem inaugural começaria em Belém, a 22 de janeiro de 1912, tendo a embarcação chegada a Sena Madureira a 14 de fevereiro. Conforme as descrições da época, o seu rancho primava pela qualidade, sendo composto de conservas e bebidas finíssimas compradas na França, Alemanha e Inglaterra.
Um diário de viagem, que transcreveremos a seguir, foi publicado nos números 93 e 94, do Brasil Acreano, infelizmente incompleto, pela falto do segundo exemplar, na coleção consultada.
O Guanabara “levantou ferro, em Belém do Pará, no dia 22 de janeiro de 1912, lançando-o, em Manaus, pela manhã de 28, tendo, durante a viagem, recebido o gado necessário, para a alimentação da tripulação e dos passageiros”.
Demorou-se, na baía do rio negro, até o dia 3 de fevereiro, levanto ferro as nove horas da manhã e desenvolvendo esplendida marcha, cortou as águas pardacentas do rio negro,alcançado, em 50 min, a boca do Solimões, onde se encontra o celebre caldeirão, que tem tragado muitas vidas e embarcações.
As 5:30 da tarde passamos de fronte a Manacapuru, lugarejo do estado do Amazonas. É uma vila e cabeça de comarca, cujos habitantes são na maioria judeus. Tem umas casinhas baixas e, no meio, ergue-se uma igrejinha, alva como uma garça.
No dia 4, as 6 h da manhã, saímos a boca do sinuoso rio Purus, aonde chegamos as 3h da madrugada, após 18h de rápida viagem, perdendo 3h, para comprar pirarucu – o celebre bacalhau do Amazonas.
Neste dia, avistamos beruri, elevado e lindo lugar pertencente a comarca de Manacapuru. Tem uma meia dúzia de casinhas, uma igrejinha em construção e uma subdelegacia de policia. Fornece tartaruga e pirarucu a todos o navios, que sulcam o tortuoso e comprido Purus. Vende também mexira (conserva de peixe boi) lenha. A terra é firme e será, no futuro, uma cidade a margem do Purus, esta faixa amarela entre duas linhas verdes, formando as cores da bandeira nacional. Ele é importante, tem orgulho de suas curvas e de sua extensão.
As 5h passamos por nove trombetas, viajando todo dia debaixo de calor abrasador, de um sol de fogo. Nem o gelo e os ventiladores de bordo, conseguiram nos livrar de uma atmosfera de aço.
Neste dia foi grande o consumo da esplendida cerveja alemã, que nos fez lembrar os saborosos schops da brama, em pleno a avenida central, no saudoso, sempre lembrado e jamais esquecido, Rio de janeiro. Bebeu-se muita água mineral mattoni, soberba rival da caxanbu, usada e apreciada, na Alemanha, com a rainha das águas de mesa.
Apesar do nosso amigo coronel Avelino chaves não ser rei, se não da borracha, ele gosta de beber e comer, como comem e bebem os verdadeiros reis. Nisso ele é fidalgo e nobre. Procura passar tão bem a bordo do Guanabara, como se estivesse hospedado no hotel esplanada em Berlim.
Nesse mesmo dia, passaram por nós o imperador, vapor do coronel Childerico Fernandes, rico proprietário do seringal oriente, no rio Iaco, e o vapor Braga sobrinho, propriedade de conhecida casa comercial do Pará. (no imperador, viajavam Areal Solto e Childerico Fernandes, que iam a Belém tratar de negócios e de política...).
Dia 5 – fomos despertados, pela manhã, por uma descarga de tiros em patos, que voavam pela margem. A manhã estava fresca. À uma hora da tarde, passamos pelo seringal Guajaratuba, propriedade do sogro do senador Silvério Nery e, em seguida, pelo Ipu. Atravessamos o Paraná da Elba e entramos de novo, no Purus, gastando, até ai 47h e 10m, desde o porto de Manaus.
Dia 6 – encontramos às 9h da manhã, uma jangada peruana feita de três grandes troncos de cedro, com uma choupana de folhas e paxiúba, no centro, formando uma embarcação muito original e pitoresca. Deslizava mansamente pelo rio Purus, águas abaixo, transportando caucho e peruanos.
Passamos pela boca do jacaré, afluente do Purus. Este rio ainda não foi explorado. É habitado por índios negros, antropófagos e ferozes. Nas suas margens encontramos a seringueira vermelha de qualidade inferior. Tem próximo a boca duas barracas, sendo uma delas ocupada por um preto velho, antigo habitante daquelas paragens, que há tempos aconselhou a tripulação da lancha Romeu a não penetrar no rio, e se insistisse seria trucidada pelos índio negros. Desde então nenhuma outra se atreveu a sondar o rio jacaré, conforme conta a lenda.
Quando nos achávamos fronteiros ao seringal São Pedro do Arimã, estávamos a mesa, nesse momento, um nosso companheiro seringueiro do rio Pauini, pôs açúcar na tartaruga que devorava! A nossa admiração não se fez esperar e para atenuá-la contou-nos que neste lugar, ao enterrar-se um defunto, matou-se um judeu ao pé de uma sepultura.
Dia 7 – às 5h da manhã chegamos a boca do Tapauá, um dos muitos afluente do Purus. Nessa embocadura acanham-se diversas casas espalhadas, de um lado e do outro. “Passou por nós o vapor tupi, da companhia do Amazonas”.
Neste parágrafo terminou o texto da primeira parte do diário. Quanto a segunda parte infelizmente não nos foi possível encontra, e deveria conter o interessante trajeto entre o Tapauá e Sena Madureira.
Alem de A. Chaves & Cia., numerosa firmas possuíam modernos barcos, como a empresa Rocha & Silva, de Belém, da qual Childerico Fernandes era sócio, que recebera, em agosto de 1910, o vapor iaco, construído pelo estaleiro murdock & murray, de glasgow, dirigido pelo engenheiro James Branner. Pertencia ao tipo Victória tendo 145 pés de comprimento; 31, de boca e 8, de pontal, com 371 toneladas brotas. Seu casco era de aço, sendo movimentado por uma maquina de noventa cavalos desenvolvendo 11 milhas horárias, possuindo as mesmas comodidades do Guanabara, alem de uma estufa a vapor capaz de escaldar um fardo de carne seca.
Dezenas de outros navios de aço navegavam pela Amazônia, fazendo circular seu produto e tornado a vida do interior mais cômoda.
Neste tempo, a euforia dos autos preços da borracha animava a todo, no sentido de aplicarem seus capitais em investimentos lucrativos de rápido retorno, como os navios, que ao mesmo tempo livravam os seringalistas dos escorchantes fretes cobrados pelos armadores.
Apesar de já ter passado o sue período áureo, em 1915, ainda se matinha grande o movimento de embarcações para o auto Purus e Iaco como estava o movimento do porto da cidade de Sena Madureira.


Fonte BIBLIOGRAFICA: Acervo de José Arnoudo Pereira Nunes.
Pesquisador.
LOUREIRO, Antonio Jose Souto. O Brasil Acreano, Manaus, Gráfica Lorena-2004

Acadêmicos do Curso de Artes Visuais

Alice Gomes de Almeida

Adriano Jose Apolinário

Cleonildes Aquino da Costa

Deijanira Rocha das Chagas

Delma Queiroz de Souza

Isangela Maria Costa da Silva

Jose Arnoudo Pereira Nunes

Leví Freitas da Silva

Um comentário:

  1. Excelente! Os alunos do curso de história deveriam aprofundar esta pesquisa!

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