quarta-feira, 6 de maio de 2009

Resgate da História de Sena


Resgate histórico dos pioneiros de Sena Madureira


Este trabalho visa enriquecer a historiografia do nosso município e ao mesmo tempo servir de fonte de pesquisa para esta atual e as gerações futuras sobre o resgate histórico de alguns pioneiros e desbravadores de nossa cidade.


O Fundador José Siqueira de Menezes


Ele nasceu na cidade de S. Christovam em 07 de Dezembro de 1852. O mesmo teve sua historia toda dedicada ao militarismo e as demandas do país e, em 1904 foi nomeado prefeito do alto purús, para então servir ao Governo da Republica. Em 25 de setembro do mesmo ano fundou a cidade de Senna Madureira, e por decreto de 05 de maio do mesmo ano foi promovida a General de brigada, deixando a prefeitura do alto purús no inicio de 1905, seguindo para a Bahia.


Construtor da cidade

José Candido Mariano foi o construtor da cidade de Sena Madureira. Esteve presente na solenidade de fundação realizada por Siqueira de Menezes em1904, mas não permaneceu na região. Quando retornou - já nomeado como prefeito departamental, em junho d 1905 - o que deveria ser uma cidade era uma simples clareira na mata ocupada somente pelos militares dos 36º batalhões de infantaria. Durante os quase cinco anos em que governou o departamento do ALTO PURUS traçou ruas, construiu prédios e atraiu seus primeiros moradores graças à doação de terrenos.

Através de dois relatórios do prefeito José Candido Mariano, quase inéditos para a maioria dos acreanos, podemos conhecer o primeiro ano de existência de Sena Madureira.



Alavancada na cultura do município

Antonio Pinto do Areal Souto nasceu em independência, no sertão de Crateús, no Ceará, a 29 de janeiro de 1886. Criou-se em Tamboril e São Francisco de Uruburetama, de onde, ainda menino, veio para os seringais da Amazônia, acompanhando de sua numerosa família, desalojada pelas secas. Tomando parte ativa nos movimentos estudantis, contra a oligarquia aciolina, foi obrigado, como tantos outros, a refugiar-se em Pernambuco, onde concluiu seus estudos, bacharelando-se em direito, pela Faculdade de Recife. E voltou à Amazônia, em 1911, para Sena Ma-dureira, onde adquiriu grande prestigio moral, intelectual, profissional e político. Foi governador geral do acre, prefeito do departamento do alto Purus, intendente de Sena Madureira, secretário geral do departamento, advogado de reputação ilibada, promotor federal, delegado do grande oriente do Brasil, e antes de tudo, um idealista.

E com isso elavancou na cidade e mesmo na região o incentivo teatro, o cinema e a música, naquela cidade, ajudando o grupo dramático musical ARTHUR AZEVEDO, animador da cidade, com os seus espetáculos e retretas.

Referencia em educação na Amazônia

As servas de Maria reparadoras em especial Irmã Fábia, vieram da Itália à Amazônia e transformaram o ensino nessa região. Entre a primeira e segunda Guerra Mundial, a situação Italiana era caracterizada pela organização sindical dos trabalhadores. Desde a chegada das irmãs servas de Maria reparadoras, em Sena Madureira, houve uma expansão para outros estados. No município ergueram o colégio Santa Juliana, com um ensino invejável em todo o país, vindo gente de outros estados e até outros países para estudar no mesmo, haja vista que o “Colégio” como até hoje é mais conhecido, era reconhecido por todos, desde sua exuberância até sua qualificação pedagógica e cognitiva.

Um Rei Acreano da Borracha


No dia 04 de novembro de 1875, em Sítio do meio, no Estado de Sergipe, Avelino de Medeiros Chaves tornara-se um dos grandes seringalistas do Iaco.

Aos dezessete anos tomara o rumo do pára, como faziam todos os nordestinos desejosos de se libertarem das más condições de vida dos seus berços natais. Dali foi para o Rio de Janeiro tentar a vida militar, em 1894.

Em 1896 com diploma de Agrimensura veio para o acre. Aqui tomou parte de todos os movimentos contra os bolivianos e abriu uma estrada entre o alto Iaco e Xapuri.

Em 1912, sendo titular da firma A. Chaves & Cia, da qual também era sócio João Câncio Fernandes (2), possuía os seringais Brasil, Guanabara, Arvoredo e Peri, no Iaco;

Canadá, no Acre, e Panamá, Califórnia e Mato Grosso, no Xapuri (3).

Em 1909 já estava rico, pois somente o seu seringal Guanabara produzira 190.000 quilos de borracha.

De passagem por Sena Madureira, anunciou, aos amigos, que ficaria hospedado, no Rio de Janeiro, no Hotel Avenida, e, e, Paris, no Grand Hotel.

Em Paris comprou com seu sócio Fernandes Melo Filho, o jornal Le Courrier Du Brésil, destinado à propaganda do nosso país, no Velho Mundo.

Durante esta visita ao velho mundo encomendou três embarcações modernas, para as suas firmas: a lancha Sena Madureira, a Alvarenga Catiana e Sena Madureira.

O barco principal seria o Guanabara, cuja primeira subida, ao Iaco, estava prevista para março de 1911, mas devido a uma greve demorou um pouco mais para ser entregue.Finalmente em 14 de fevereiro de 1912 a embarcação chegou em Sena Madureira.

Neste tempo a euforia dos altos preços da borracha animava a todos, no sentido de aplicarem seus capitais em investimentos lucrativos e de rápido retorno, como os navios, que ao mesmo tempo livravam os seringalistas dos escorchantes fretes cobrados pelos marcadores.

Apesar de Já ter passado o período áureo, em 1915, ainda se mantinha grande o movimento de embarcações para o Alto Purus e Iaco, como atestava o movimento do porto da Cidade de Sena Madureira.

Vários foram os personagens que marcaram época em nosso município. Ao longo do desenrolar desse resgate encontramos ainda algumas celebridades que se dispuseram a nos ajudar a realizar um resgate histórico de nosso município, haja vista que ainda há uma lacuna de informações.


Nessa busca contamos com a colaboração de filho dessa terra que é apaixonado pela historia regional, que de forma acentuada contribuiu na aquisição dos dados apresentados a seguir:


Dedicação e amor pela educação e a história de seu município

Fonte: Hermano Filho Costa

Aos 47 anos de idade Hermano Filho é um dos professores mais preparados de nosso município, é acreano, natural de Sena Madureira, tem três filhos: Halyne, Hamanda e Hiago, também é avô de Willian – o seu primeiro neto. É casado com Rutineia Souza. Ama sua mãe dona Zuilla Sales e tem mais cinco irmãos por ele também muito amados.

Graduado em pedagogia e educação física pela Universidade Federal do Acre-UFAC, e pós-graduado em psicologia pela FIVE/MT.

Experiência Profissional

Auxiliar de escrivão Ad-Hoc - Delegacia Geral de Polícia-1979/1980

Oficial de Justiça Ad-Hoc-Fórum Desembargador Vieira Ferreira-1981

Servidor do INCRA/UAAP-1982/2009

Experiência política

Vereador eleito durante doze anos, e presidente da câmara municipal, foi também candidato a deputado estadual recebendo mais de mil votos.

Experiência esportivo-Desportiva e cultural

Idealizador e coordenador de dezenas de eventos esportivos no período de 1996/2007 - ativista cultural.

Experiência Literária.

Autor do livro Safra/Editora João Scortecci-São Paulo/SP-1989. Tendo ainda, mais de 50 poemas publicados em antologias, revistas e jornais do Acre e outros estados da federação.

Prêmios Recebidos.

O professor Hermano, como gosta de ser chamado, já foi agraciado com mais de 20 prêmios nas categorias: Poeta-Educador-Desportista e vereador.

“Tenho orgulho de ser chamado de professor, tenho atuação em diversas áreas, mas é na educação, onde mais gosto de atuar. Trabalhei durante sete anos como voluntário na Escola Estadual de Ensino Médio Dom Júlio Mattioli, tudo isso por amor a educação”, diz emocionado o professor que foi grande colaborador na realização deste trabalho. Seu legado é essencial para o desenvolvimento das atuais e futuras gerações de Sena Madureira.

Outras informações

O professor Hermano Filho é membro da loja maçônica fraternidade e trabalho nº. 03, onde exerce a função de tesoureiro

Instalação da Prefeitura do Alto Purus

Tão logo instituído o “modus vivendis” entre as republicas do Brasil e da Bolívia, em 21 de março de 1903, alguns dias o termino da Revolução Acreana, movimento esse comandado por José Plácido de Castro, 06 de agosto de 1902 a 24 de janeiro de 1903, fez com que autoridades plenipotenciárias negociassem, por meios diplomáticos, a extensa área de conflito.

Nessa negociação, resultou na assinatura em 17 de novembro de 1903, do Tratado de Petrópolis, na cidade Serrana de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro.

Uma das primeiras medidas tomada pela União após a assinatura daquele tratado, foi a expedição da Lei nº. 1.181 de 25 de fevereiro de 1904, que autorizou Francisco Paula Rodrigues Alves, Chefe do Executivo Federal a organizar provisoriamente, o Território do Acre, recém incorporado ao Brasil.

Essa medida de caráter puramente político-administrativa objetivou a expedição do Decreto Federal nº. 5.188, de 07 de abril de 1904, que dividia o território acreano em três departamento ou prefeituras, governadas por Delegados de confiança do presidente da República autônomos entre si.

Foram criados, os departamentos do Alto-Acre, Alto - Juruá e Departamento do Alto-Purus. E posteriormente foi criado o Departamento do Alto - Tarauacá, desmembrando do Departamento do Alto - Juruá.

Para o Departamento do Alto-Purus foi escolhido para administrar o General José Siqueira de Menezes, nomeado por decreto datado de 11 de abril de 1904, assinado pelo então Presidente Rodrigues Alves.

Com essa nova, missão coube ao General José Siqueira de Menezes se deslocar para o Acre e cumprir as ordens legais que lhe foram atribuídas à criação do departamento do alto Purus e a respectiva instalação do regime prefeitura, ocorrido em 25 de setembro de 1904.

Com isso, podemos historiar o inicio da administração do primeiro prefeito de Sena Madureira que foi de 25 setembro de 1904 até 12 de janeiro de 1905.



Copia da ata original

No dia 24 de setembro de 1904, o General Jose Siqueira de Menezes, herói de Canudos atravessou a Linha Cunha Gomes, e, em uma terra firme, à margem esquerda, onde fora uma maloca Catiana, com a ajuda de cinqüenta trabalhadores providenciou a limpeza do terreno e o levantamento de um tapirí, de cinco metros quadrados, onde seria instalada a primeira sede do Departamento do Alto Purus, sob a sua direção.

Na manhã seguinte, 25 de setembro, bem cedo, uma comitiva composta de civis e militares saiu da povoação amazonense de Boca do Caeté, para o local anteriormente preparado. Às sete horas, a eles juntaram-se numerosas canoas, cheias de moradores vizinhos, cruzando e coalhando o Iaco, rumo às festividades, a começarem dentro de uma hora. E assim, sob as toscas palha do tapirí na hora prevista, com a presença de umas duzentas pessoas, nascia Senna Madureira, denominação dada em homenagem à figura do militar; que lutara na guerra do Paraguai e ousara enfrentar o Império. A sua certidão de idade foi a Acta ali lavrada e assignada, pelos presentes, sobre uma improvisada mesa feita das tábuas de um caixote e de pedaços de paxiuba, forrada pelo um retalho de mescla, o tecido usado nas roupas de muitos ali presentes.

A Acta foi gravado nos seguintes termos:

“Aos vinte e cinco dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e quatro da era Christã, décimo sexto da República, no lugar que então foi denominado Senna Madureira, à margem esquerda do Rio Iaco, affluente da margem direita do Rio Purus, a 68ª e 58”W de Greenwich longitude, e a 9° 7’ e 17” de latitude Sul, presentes Excelentíssimo Senhor General Jose Siqueira de Menezes, Prefeito do Departamento do Alto Purus e mais pessoas que esta assignan, foi instalado o Governo do mesmo Departamento, com as formalidades legais e de acordo com o Decreto do Governo Federal, sob o número cinco mil cento e oitenta e oito, de sete de abril de mil novecentos e quatro. E para constar, o auferes-alunno Bias Gomes Pimentel, designado pelo o Excelentíssimo General Prefeito, lavrou a presente Acta, que foi pelo mesmo assignada e por todas as demais autoridades e pessoas gradas, presente ao Acto. Senna Madureira vinte e cinco de setembro de mil novecentos e quatro assgnados Jose Siqueira de Menezes, General Prefeito do Alto Purus, João Siqueira de Menezes, auxiliar do prefeito, Geraldo Barbosa Lima promotor púbico Federal, capitão Dr. Adolpho Lins, auxiliar do prefeito 1° tenente Carlos Paes de Figueiredo, auxiliar do prefeito, tenente Dr. Epaminondas Thebano Barreto, auxiliar do prefeito Jose da Costa Gadelha, Candido Jose Mariano Engenheiro Militar, Hermenegildo Santos, João Carlos da Silveira, Laudelino Benigno, Francisco Gonçalves Campos, Miguel Ilario de Vasconcelos, Lauro Pinheiro, Avelino de Medeiros Chaves, Agostinho Escocio Vieira Drumond, Dr. Eduardo de Oliveira, Antonio Simões Pereira, Edmundo Basto de Oliveira, Antonio da Costa Gadelha, Jose Olimpio da Rocha, Júlio Montenegro, Antonio Augusto de Magalhães, João Cancio Fernandes, Tarquinho de Oliveira, Abdom Almeida Anute, Manoel Cavalcante Peres Campelo, Francisco de Assis Jucá, Jose Antonio Soares Bregense, Francisco de Paula Souza Catunda, Arthur Gadelha, Candido Siqueira de Menezes, Jose Manoel Labandeira, Abdoral Cardoso, Lourival Cavalcante, Delfin de Souza Oliveira, Theodomiro Leite Cavalcante, Machef Mansour, Antonio Joaquim de Castro, Salim Jacob, Eduardo Francisco, Henrique Catalão, Antonio Rufino Cavalcante, Camilo Mustafá, Estevam Jacob, Alfredo Jacob, Jose Ayres da Silva, Jose Cesário de Faria, Sebastião Gomes da Silva, Manoel Pires de Freitas, Francisco Xavier dos Santos, Raimundo Ferro dos Reis, Jose Geronimo de Barros, João Alves Rodrigues, João Anselmo Ribeiro, Avelino Jose Carvalho, Ananias Gadelha, Umbelina Cardoso de Freitas, Regina Fernandes Gadelha, Maria Gama Bentes, Carmelita Souza, Gêneses Paulina dos Reis, Georgina Barbosa Chuche, Francisca Altina, tenente honorário; Artur Macieira, encarregado do primeiro Posto Fiscal, Miguel Machef Mansour, Jose Nakar, Miguel Sarah, Namur Ruans, Miguel Pereira de Souza, Raimundo Nunes Ferreira, Francisco Balbino da Costa, Virgilio Gomes de Almeida, alferes auxiliar do Prefeito, Luiza Pinheiro, Francisco Aragão, Raimunda Sales Gadelha”.

Eu Alferes-alunno Bias Gomes Pimentel, lavrei a presente acta que assiguo.

Senna Madureira-Acre, vinte e cinco de setembro de mil e novecentos e quatro.



Via expedida pelo o acervo de Jose Arnoudo Pereira Nunes.

Sena Madureira – Acre, 25 de maio de 2006.



Fonte: Manoel Passos

Idade: 86 anos, morador do município até aos dias de hoje, contemplando todos os dias a paisagem do rio Yaco.


O Soldado da Borracha

O srº Manoel Passos da Silva mora em uma casinha com sua família, onde desfruta de uma linda paisagem, com alma de poeta, o soldado da borracha sempre recebe os visitantes com um sorriso cativante e com muita honra conta a historia que presenciou nesses seu 86 anos.

Seu passinho, como é mais conhecido chegou ao acre no colo dos pais com apenas um ano de idade. Eles vieram em busca de uma vida melhor. Chegando em Sena Madureira foram morar no alto rio Iaco. Ainda muito jovem ficou órfão, tendo que trabalhar muito pra criar os cinco irmãos que com ele moravam. Cedo, logo casou com dona Odisséia, com quem teve dez filhos.

Seu passinho é um destemido. Nada o deixa abatido, nem agora que está com idade avançada. Sempre encarou de “frente” os problemas que surgiram na sua trajetória de vida.

Cheio de entusiasmo, o poeta recorda os velhos tempos, relatando histórias dos soldados da borracha e da fartura que existia antigamente.


Fonte: Dário Sá

Idade: 86 anos, vive hoje no município com sua família na Avenida Avelino Chaves – Centro.



Resgate histórico do Teatro Cecy


Rua major João Câncio n° 05

Casa de eventos e espetáculos, em “cenas de uma época”, que retratou o apogeu que foi a economia gerada do desafogo financeiro decorrente dos altos preços alcançados pela borracha no mercado internacional.



Fonte: José Arnoudo Pereira Nunes

Acervo: Loja Maçônica Fraternidade e Trabalho n° 03

Jornal Brasil Acreano de Antonio José Souto Loureiro

Teatro Cecy

Na primeira e segunda década do século XX, floresceu em Sena Madureira uma intensa atividade cultural, artística e literária, graças à imensa riqueza gerada pelo ciclo da borracha, o que fez com que a região do alto Purus tivesse uma renda percapita bruta de mais de U$ 4.000,00, semelhante a da Bélgica, o país situado no primeiro lugar no ranking mundial.

Essa gigantesca riqueza foi capaz de gerar nesta cidade progressista possuidora, em 1908, de três jornais quinzenais, o “Brasil Acreano”, a “Gazeta do alto Purus”, e o “Estado do Acre”, e de atrair de duas a três dezenas de profissionais liberais, médicos, advogados, e agrimensores, todos de formação humanística, teórica e elitista, cujas incursões na literatura davam a possibilidade de maior projeção na sociedade, pelo seu conhecimento de vernáculos e de regras gramaticais, um passaporte seguro destinado a conseguir o desejado emprego público, ou o cargo importante, em um País que teimava a escrever, na forma lusitana clássica, a usar idéias, paisagens e padrões europeus, enquanto a maior parte da população tinha os seus próprios linguajares.

Para Sena Madureira, atraídos pela miragem do enriquecimento rápido acorriam personalidades oriundas de todo o Brasil e do exterior, que aqui ficavam por algum tempo no exercício das atividades públicas ou particulares, regressando depois as origens, com a experiência adquirida, particularmente os funcionários federais, que através de seus padrinhos conseguiam um emprego especial no Acre longínquo, uma espécie de purgatório, até conseguirem sua transferência definitiva para o Rio de Janeiro, então Distrito Federal, o Paraíso.

A vida associativa, em Sena Madureira, tornou-se muito ativa, por volta de 1908, quando do desafogo financeiro decorrente dos altos preços alcançado pela borracha no mercado internacional.

Em 1908, advogando e residindo a Rua Iaco nº. 16, viveu em Sena Madureira, o célebre poeta Quintino Cunha, quando juntamente com monsenhor Antônio Fernando da Silva Távora e Geraldo Barbosa Lima, idealizou a fundação de uma casa de espetáculos denominada de Teatro Cecy, que foi construída pelo prefeito efetivo Cândido José Mariano.

A cerimônia de inauguração, iniciada as 08h00min horas da noite, de 03 de janeiro de 1908, participaram da festa o Prefeito Cândido José Mariano, Monsenhor Antonio Fernandes da Silva Távora, pároco da cidade, homem decidido e político de prestigio, tendo sido vogal no município, como literato, escreveu umas memórias, contando as peripécias da sua vida eclesiástica.

No dia seguinte após a inauguração, continuou pleno de festividades, com diversões infantis, comprimentos a sociedade, banda de música na praça, barcos de regatas no Iaco, em frente ao Porto, à noite, a retreta animada pela banda de música Guarani na Praça 25 de setembro. No teatro despontaram Geraldo Barbosa Lima, com a “comédia Egoísta logrado”, apresentada a 03 de abril de 1909, por Madame Marcelle Bréville, e um grupo de amadores, Jovino Marques, com “a paixão de velho”, encenada a 31 de dezembro do mesmo ano, no mesmo palco, Antonio Pinto do Areal Souto, com peças infantis, Pastorinhas e Patrióticas, com o drama em decassílabos A Independência.

Na oratória dos eventos realizados no Teatro Cecy ficaram célebres: João Martins de Freitas, Barbosa Lima, Areal Soutos, Flaviano Flavio Baptista, José Daour, João Câncio Fernandes, José Cezario de Faria, Avelino de Medeiros Chaves, com vibrantes discursos políticos e conferencia literária de alto nível.

Nessa efervescência cultural, a 1ª de setembro de 1910, os intelectuais iacoaras fundaram a “Arcádia Acreana” revista científico-literária, cujo primeiro número ficou pronto em outubro.

Os encontros para discussão dos movimentos autonomistas do alto Purus sempre aconteciam nos salões do Teatro Cecy e na loja Maçônica “Fraternidade e Trabalho nº. 03”.

Foi no Teatro Cecy que ocorreu em 1910, a primeira sessão cinematográfica da cidade, ali se instalando mais tarde o cinema Olga, de João Rocha.

As prendas e os espetáculos oferecidos tornaram-se famosas as informações sobre o Teatro Cecy, os eventos descreviam cenas da “Belle Époque”, num tempo que não eram comuns as roupas feitas, e quando a música fazia parte do entretenimento familiar, executada pelos seus próprios componentes. A música constituía-se em um complemento indispensável a todas as reuniões e eventos havendo grande número de instrumentistas sempre prontos para as apresentações em programas comemorativos sociais ou políticos.

Na escola de prendas e de música foram peças fundamentais na formação educacional dos jovens do município, as irmãs do pároco Monsenhor Antonio Fernandes da Silva Távora, Ana Ajuricaba Fernandes Távora e Idalina Olímpia Fernandes Távora, verificando a inexistência em Sena Madureira de uma escola de prendas, resolveram funda-las, ensinando o indispensável às meninas e moças, dentro do desejável para exigências modernas da época, ensinava-se nessas aulas especiais: aula de piano, bandolins, violino e músicas em geral. Ensinavam a trabalhar em flores de papel, pano, miçanga, parafina, cera, e pedra hume, a bordar em branco, a lã, seda e fita, flocos e ouro, ao ponto brasileiro, richelieu, susto, irlandês, e variadissimo em filó, a desenhar, crayon, souce, aquarela, pastel e óleo. Vale fazer registro dos professores que atuaram ministrando essas aulas: Rita Gadelha da Cunha, Ana Libanio Ferreira, Maria Raulino de Moura, Galdino Chaves, José Gomes Ramalho, Ambrosina de Souza Leão, Luiz dos Santos, Hermenergada Cabral dos Santos, Maria Joana Escócio Vieira Drumond e Evangelina Varela.

No Teatro Cecy apresentava-se grupos de amadores, como os do grêmio recreativo, com as comédias “A viúva e a republica de escovados”, a 22 de maio de 1910, em beneficio para o Hospital da Caridade, por um elenco formado por Ionia e Elvira Tamborini, Carlos Cunha, Haroldo Limoeiro, Urbano Gouveia, Horácio Souza, Castelo Branco, José Rubin e Cristovam Melo.

Outras peças seriam encenadas em diversas oportunidades, com “Criado detraído”, “Amor pó Anexins” e “Cautela com as Mulheres”. A 24 de maio de 1911, entre Flauta e Viola a 21 de agosto do corrente ano “Paixão de Velho”, do capitão Jovino Marques, comandante da companhia regional.

Em janeiro de 1914, no Teatro Cecy, iniciava-se uma extensa programação de filmes, onde se indicava:

  • Primeira parte – O Senhor Leitão que colocar as cortinas, fita cômica da Pathêr, com 120 metros, e A Mãe é a única e verdadeira amiga, dramática da Edson, com 400 metros.

  • Segunda parte – a vingança do cabeleireiro, cômica, interpretada por M. P rince, M. Simon, Mme, Chopila, Mme. Willy, e o Herói da Aldeia, cômica de 300 metros, da biografh.

  • Terceira parte – A cruz de perolas, fita dramátic de 400 metros, do fabricante americano Wild West, e Je dois Janer Ce Sou Othelo, cômica, com 130 metrros.

  • Quarta parte – seria encenado um filme que dezenas de anos ocuparam as telas de todas as salas de projeções do País, durante a semana santa – Nascimento, vida e paixão de Jesus Cristo, com 3200 metros e 965 quadros.

Foi também muito comemorado o carnaval de 1914, desde janeiro, quando o clube “A capa do diabo”, que se dizia familiar, convidou os seus sócios para um baile, no Teatro Cecy, e nos três dias de momo, desfilaram seis carros alegóricos, fato documentado fotograficamente. Outros períodos de muitas festividades típicas ocorriam durante o natal, estendido até o dia dos Reis, com inúmeras manifestações apresentadas como as “Pastorinhas”, “Filhas de Flora”, com os figurantes e os quadros tradicionais de cordão azul, do encarnado, de São José, de Nossa Senhora, da cigana do Egito, do Pastor, dos Floristas, e dos Minhotos, que substituíam os Galegos, para não melindrarem a colônia portuguesa.

Em março de 1914, aconteceu a festa de fundação, e a convenção dos dois primeiros partidos políticos do Departamento do Alto Purus, sendo o Partido Progressista – PP, e o Partido Republicano do Alto Purus – PRAP. As criações destes dois partidos políticos foram comemoradas com um brilhante programa de homenagens e festejos, por segmento da população local, inclusive das duas colônias estrangeiras: a Portuguesa e a Sírio-Libanesa, à noite foram oferecidos pelo comércio local e Liga dos Seringalistas, um jantar e um baile, e durante a comemoração ouvia-se um variado programa musical onde foi executado em dobrado, com o seu nome, especialmente composto para aquele momento.

Ainda neste ano de 1914, além das várias companhias nacionais e estrangeiras que se apresentaram no Teatro Cecy, o destaque do ano ficou para a realização do primeiro festival do departamento do Alto Purus, com o seguinte programa:

I – Carlos Gomes – Sinfonia do Guarani

Piano – Hermengarda Cabral dos Santos.

II – Ch Actore – Chant des Gondoliers

Piano – Hemengarda Cabral dos Santos, bandolins – senhoritas Diva Barreira e Sofia Barbosa de Oliveira e Aurélio Ferreira (violino) Manoel Ferreira (flauta) – Luiz dos Santos, José Belarmino Barbosa e Oscar Barreira.

III – Francisca Gonzaga – Romance da Princesa da Opereta A Bota do Diabo – canto – professor Souza Leão, piano – Hemengarda Cabral dos Santos.

IV – Mascagni – Intermezzo da Cavalaria Rusticana – músicos Diva Barreira, Sofia Barbosa de Oliveira, Aurélio Ferreira, Manoel Ferreira, Luiz Santos, José Belarmino Barbosa e Oscar Ferreira.

V – Braga – Serenata – terceto de piano, violino e flauta, - Hemengarda Santos, Manoel Ferreira e José Belarmino Barbosa.

VI – Ch Acton – Dors Bebé – Orquestra

VII – Beethovem – Sonata Patética – Opus 13 – piano, por Hermengorda Santos.

Outro acontecimento que marcou os eventos realizados no Teatro Cecy, aconteceu a 16 de agosto de 1914, na data do aniversário do prefeito Samuel Barreira, às 09h00min horas da manhã a inauguração do empreendimento pomposamente denominado de “Purus Ferro-Carril” o dentista Passos Galvão, diretor do jornal Alto Purus, foi o realizador deste empreendimento, aproveitando trilhos e vagonetes comprados e importados da Inglaterra. Pela manhã, estava parado o bonde nº. 01 em frente ao Teatro Cecy, quando os festejos foram iniciados servidos champanhe, com os discursos de praxe, o bonde nº. 01 seguiu o seu curso levando as autoridades até o bosque, onde todos desceram, onde foi inaugurado um clube de lazer, retornando repleto de crianças, o veiculo foi aplaudido do longo do seu trajeto pela Avenida Amazonas por pulares aglomerados ao longo da linha; com três linhas férreas, a Purus ferro-carril funcionaria por vários anos, até que a crise da borracha e a estagnação econômica fizeram os seus trilhos desaparecerem tragados pelo mato e pelo abandono.

Este empreendimento que foi a Purus ferro-carril, com três linhas de bonde a tração animal, oferecia em seus vagonetes de alto luxo, especial conforto, de que foi dotada um dia o sistema de transporte urbano da cidade de Sena Madureira.

A causa principal para levar ao desaparecimento a casa de espetáculos denominada de Teatro Cecy, situada a Rua Major João Câncio nº. 05, foi à crise decorrente da queda dos preços da borracha, que só se faria sentir no Departamento do Alto Purus, a partir de 1915, quando o ciclo da borracha já estava em declínio, e o pior ainda, é que o governo federal confiscava dos Departamentos do Acre, Purus, Tarauacá e Juruá, quantias incalculáveis, para aquele tempo; riquezas que eram produzidas no Acre, e que era aplicada no triângulo: Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, deixando o Acre sem qualquer investimento de vulto, uma das explicações para o seu atraso atual.

Em fevereiro de 1915, a crise atingiu o seu ápice, a decadência da cidade acelerava-se com a transferência da justiça federal, com a extinção do Tribunal de Apelação em 1917, com a suspensão dos serviços de transportes urbanos, realizados pelas linhas de bondes a tração animal, da empresa particular Purus ferro-carril, e com o fechamento da Delegacia Fiscal e da agencia dos correios.

Foi a ruína a casa de Espetáculos denominada de Teatro Cecy, que por mais de duas décadas graças a imensa riqueza gerada pelo ciclo da borracha, em seus eventos descrevia cenas de uma época.

Na atualidade não temos nenhum teatro ou mesmo cinema, pelo contrário vivemos apenas na terra do que “JÁ TEVE”, mas esperamos que a efetivação do resgate histórico de nossa cidade se consolide de fato e de direito com a inauguração do espaço cultural situado na Praça 25 de setembro.


Fonte: Antônio Belo de Oliveira

Idade: 104 anos, morador do Beco da Bacabera.

Srº Antônio Belo de Oliveira foi seringueiro e hoje apesar da idade ainda consegue caminhar pela cidade e contemplar as enormes mudanças que houveram, algumas para melhor e outras para pior. Segundo ele em épocas passadas tudo era mais alegre, tinha seresta, roda de amigos, famílias se confraternizando, cinema e hoje as pessoas se distanciaram.

Sena Madureira uma história não registrada


Em 1902, os seringais da bacia do Juruá e Purus estavam habitados por nordestinos, sendo, a maioria composta por cearenses que vinham em busca de fazer fortuna, trabalhando na extração do látex, por outro lado também chegavam Bolivianos e caucheiros peruanos, foi então que a disputa por terras ricas em arvores de seringueiras, contribuíram para eclosão da revolução acreana, comandada pelo coronel JOSÉ PLÁCIDO DE CASTRO.

Em outubro do mesmo ano, os seringalistas do Acre, escolheram-no como líder do exercito acreano, o coronel seringalista José Plácido de Castro. Que logo em seguida passou a recrutar, em todos os seringais, homens para a batalha. O seringalista Agostinho Escócio Vieira, atendendo o chamado do coronel José Plácido de Castro, foi incorporado ao exército revolucionário, cooperando com mercadorias, armamentos e alguns homens do seu seringal. Com o final da vitoriosa e sangrenta batalha, recebeu como recompensa das mãos do coronel José Plácido de Castro e governador do Estado independente do Acre, a demarcação e o título definitivo do seu seringal SÃO JOÃO. Cujos documentos e as terras, encontram-se em poder de seus descendentes até hoje.

AGOSTINHO ESCÓCIO VIEIRA, depois de ter lutado muito pelo desbravamento desta terra, ao longo dos rios Purus, Yaco, Caeté e Macauã. Vencido pelas dificuldades encontradas nos trabalhos dos seringais e compartilhadas por seus irmãos cearenses, no meio da imensa floresta amazônica. Veio a falecer no dia 01 de abril de 1913, no seringal São João no rio Yaco, e foi enterrado no mesmo seringal, assim como desejava.

Fonte: Manoel Herique

Srº Manoel foi seringueiro por muitos anos e com o dinheiro que ganhou assim, como poucos soube aproveitar o auge da borracha e comprou um batelão e com a queda da borracha começou a ser regatão e conseqüentemente por problema de saúde montou um pequeno comercio no centro da cidade e ali permaneceu pouco tempo atrás.

O município de Sena Madureira tem mais de 100 anos e ao longo desses anos foi grande o crescimento trazido pelos avanços tecnológicos, político, industrial e social. Analisando a situação econômica podemos destacar que há décadas passadas o município sobrevivia apenas do extrativismo, e atualmente as fontes de renda ainda são permeadas pelo valor extrativista, mais bem acentuada com a pecuária aumentando assim, o valor da terra em nossa região, funcionalismo público e comércios. Antes eram poucas as pessoas que tinham condições de ter um veiculo automotor e hoje além dos milhares de bicicletas, e motocicletas, já temos um número considerado de carros. E ainda temos grandes investimentos na área do comercio. O asfaltamento da estrada BR 364 permitiu o acesso a capital de inverno a verão, onde antes no inverno era apenas por barco.

Em se tratando da área social temos um grande aumento da população tanto por decorrência do êxido rural quanto de migrações de outros estados. E com isso houve o aumento na marginalidade e desigualdades sociais, porém com o incentivo do governo através dos programas sociais, é raro encontrar uma família que não tenha pelo menos o básico para a sobrevivência. Outro fator no âmbito social foi à desestruturação na composição familiar, criança morando com os avós, mulheres tendo que trabalhar o dia inteiro, pais abandonando suas famílias, bem diferente de décadas passadas onde a cultura do município era embasada na conjuntura familiar tendo como base a proteção da ética e dos bons costumes.

Já em relação à cultura no meu modo de ver analiso que houve mais prejuízos do que avanços, tendo em vista que no nosso município existia, cinema, seresta nos fins da tarde, teatro no meio da avenida mesmo sem ser festa comemorativa do município, cavalhada, dentre outros, e hoje não temos nada disso e acredito que seja um prejuízo para a nossa cultura local, claro que também não posso deixar de relatar o surgimento de grupos de capoeira, rip rop e danças, porém ainda estar bem distante das belezas que escuto os mais velhos contarem.

No campo educacional houve um avanço extraordinário hoje o incentivo é tão grande para manter o aluno na escola que tem até bolsa para adultos estudarem, onde antes a pessoa que se dedicava aos estudos, era considerada por muitos pais como “preguiçosos e vagabundos”. Pouquíssimos eram os pais que incentiva os filhos a estudar, mais sim a trabalhar. Hoje já se acredita que a educação é à base de uma sociedade mais igualitária e para todos.


Este trabalho foi realizado pelas cursistas:

Antônia Maria de Queiroz Costa

Dandara Costa Medeiros

Fátima Bezerra

Maria Inês dos Santos

Natécia Lima

Valcione Oliveira da Rocha.


7 comentários:

  1. Parabéns!!!
    O trabalho está muito rico em informações...

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  2. Parabens pela iniciativa. Tive o prazer de que meu bisavô assinou a ata de funação (Antonio da Costa Gadelha). Também, seu genro, meu avô, Joaquim de Oliveira Valença foi juiz da Comarca do Alto Purús, tento assumido em 1911. Era pernambucano de São Bento do Una e formado em direito pela Faculdade do Recife. Minhas tias mais velhas nasceram no Acre.

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  3. Prazer tambem de ter conhecido "pessoalmente" outro dos assinantes dessa lista, o seu Abdon Almeida Anute , eu o conhecia quando morou aqui no Rio de Janeiro, e, sem duvida, eh gente importante para o resgate historico do Brasil , pensar que ele tinha mais idade que o territorio do Acre e que lutou pela terra. Lembro que conversava muito com ele, na rua dos Arcos, onde morou alguns dias na casa de sua filha (professora) Nazira Anute. Naquela oportunidade ele contou um pouco de sua historia ligada a revolta acreana. Fato interessante, tinha ate chumbo de mosquete encravado pelo corpo.

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  4. Foi maravilhoso rever este trabalho e relembrar de minha história..

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  5. Gostaria de comentar sobre "as irmãs" do Monsenhor Távora", jaguaribanos, cearenses como eu. Somos nascidos na mesma cidade do Ceará, Jaguaribe - CE e venho pesquisando desde ano 2000 sobre essa ilustre família Távora natural daqui. Em primeiro lugar gostaria de informar que Anna Ajuricada não era irmã do Monsenhor Távora e de Dona Idalina. Era sobrinha deles. Anna era filha de Dona Clara Fernandes Távora, irmã do Monsenhor Távora e de Dona Idalina. Anna Ajuricada era irmã do Marechal Juarez Távora, sobrinho do Monsenhor e de Idalina.

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    1. Boa noite, saberia me dizer qual foi a descendência de idalina?

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